domingo, 30 de setembro de 2012

Allen Ginsberg (1926-1997)


 
 
UM SUPERMERCADO NA CALIFÓRNIA
  Quais pensamentos tive sobre você, Walt Whitman, pois caminhei
por ruas obscuras por baixo das árvores com uma enxaqueca semi-consciente olhando
para a lua cheia.
  Em minha fadiga faminta, e comprando imagens, eu entrei na loja
de frutas enfeitada de néon, sonhando com suas enumerações!
  Que pêssegos e que penumbras!  Famílias inteiras à noite às
compras!  Corredores cheios de maridos!  Esposas nos abacates, filhos nos tomates!
--e você, García Lorca, o que fazia lá pelas melancias?
 
  Eu vi você, Walt Whitman, sem filhos, o velho pária, escolhendo
entre as carnes na geladeira e de olho nos meninos do armazém.
  Eu vi você perguntando pra eles: quem fez o porco em pedaços?
Qual o preço das bananas?  És meu Anjo?
  Eu vaguei ao redor de brilhantes pilhas de latas, te perseguindo,
e persegui em minha cabeça, bancando o detetive da loja. Nos cruzamos /
/por corredores em nossas andanças solitárias
saboreando alcachofras, experimentando cada delícia congelada, sem jamais passar no 
caixa.
 
  Aonde vamos, Walt Whitman?  As portas se fecham dentro de uma hora.
Para qual caminho sua barba aponta essa noite?
  (Toco no teu livro, sonho com nossa odisséia no supermercado e me
sinto absurdo.)
  Andaremos por toda a noite por ruas solitárias?  As árvores juntam sombras
sobre sombras, luzes apagadas nas casas, ambos estaremos sozinhos.
  Cruza-nos-emos em sonhos com uma América perdida de amor em automó-
veis azuis por estradas, lar de nossas silenciosas cabanas?
  Ah, pai querido, barba grisalha, velho professor de coragem, qual América
possuía,quando Caronte desistiu de tocar a barcaça e você entrou 
numa banquisa de fumaça e lá permaneceu observando a barcaça ser engolida pelas águas negras do
Lete?
                                                                            Tradução: Eduardo Lima
 
A SUPERMARKET IN CALIFORNIA
  What thoughts I have of you tonight, Walt Whitman, for I walked 
down the sidestreets under the trees with a headache self-conscious looking 
at the full moon.
  In my hungry fatigue, and shopping for images, I went into the neon
fruit supermarket, dreaming of your enumerations!
  What peaches and what penumbras!  Whole families shopping at 
night!  Aisles full of husbands!  Wives in the avocados, babies in the tomatoes!
--and you, García Lorca, what were you doing down by the watermelons?
 
  I saw you, Walt Whitman, childless, lonely old grubber, poking
among the meats in the refrigerator and eyeing the grocery boys.
  I heard you asking questions of each: Who killed the pork chops?    
What price bananas?  Are you my Angel?
  I wandered in and out of the brilliant stacks of cans following you,
and followed in my imagination by the store detective.
  We strode down the open corridors together in our solitary fancy 
tasting artichokes, possessing every frozen delicacy, and never passing the 
cashier.
 
  Where are we going, Walt Whitman?  The doors close in a hour.
Which way does your beard point tonight?
  (I touch your book and dream of our odyssey in the supermarket and
feel absurd.)
  Will we walk all night through solitary streets?  The trees add shade
to shade, lights out in the houses, we'll both be lonely.
  Will we stroll dreaming of the lost America of love past blue automo-
biles in driveways, home to our silent cottage?
  Ah, dear father, graybeard, lonely old courage-teacher, what America
did you have when Charon quit poling his ferry and you got out on a 
smoking bank and stood watching the boat disappear on the black waters of
Lethe?
                                                                              Allen Ginsberg (1926-1997)

sábado, 15 de setembro de 2012

e.e.cummings (1888-1963)





e.e cummings (1888-1963)
maggie e milly e molly e may 
foram à praia à beira-mar (para brincar)
e maggie viu uma concha cantante 
tão doce que ela dos seus problemas não conseguia atinar; e
milly encetou um papo com uma estrela-do-mar 
cujo raio em cinco dedos lânguidos está
e molly foi caçada por um ser monstruoso 
que corria de lado enquanto ficava a borbulhar, e
may levou pra casa uma pequena redonda pedra 
tão minúscula para o mundo e tão grande para si.
Pois o quer que perdamos (como você ou eu) 
é sempe conosco que deparamos no mar.
Tradução: Eduardo Lima

maggie and milly and molly and may 
went down to the beach(to play one day)
and maggie discovered a shell that sang 
so sweetly she couldn’t remember her troubles,and
milly befriended a stranded star 
whose rays five languid fingers were;
and molly was chased by a horrible thing 
which raced sideways while blowing bubbles:and
may came home with a smooth round stone 
as small as a world and as large as alone.
For whatever we lose(like a you or a me) 
it’s always ourselves we find in the sea
e. e. cummings (1888-1963)